COMO SUBSTITUIR OS SULFATOS EM FORMULAÇÕES SULFATE-FREE?

Se enganou quem acreditava que as formulações sem sulfato seriam apenas uma tendência de curta duração e de pouca aderência. O uso de produtos livres de sulfato ou sulfate-free tem conquistado o coração de muitos amantes de cuidados com a pele e cabelo. Conheça mais sobre o assunto e veja os principais ativos para substituição. Confira!

Antes discutido apenas via internet, em blogs em que se comentavam os malefícios aos cabelos causados pelo uso de shampoos que continham sulfatos, o debate sobre a substituição de sulfatos tomou dimensão global, motivando empresas líderes de mercado a desenvolverem novos produtos cosméticos livre de sulfato.

 

 

Não se sabe ao certo quando o movimento sulfate-free de fato iniciou a ser abordado no setor cosmético, porém no ano de 2015 a Mintel identificou que o mesmo foi ganhando força e se espalhando por diferentes regiões do mundo no ano de 2007.

 

A grande motivação para o consumo destes produtos consiste numa lavagem mais suave a fim de minimizar as agressões causadas no cabelo que já são conhecidas decorrente do uso de produtos sulfatados.

E sabemos que hoje em dia os consumidores estão cada vez mais atentos aos rótulos de produtos, principalmente de shampoos, e continuam preocupados com a presença de sulfatos nas formulações cosméticas.

Mas o que são os sulfatos?

Bem, primeiro temos que entender o que é um tensoativo.

 

O QUE É UM TENSOATIVO?

 

Os tensoativos são substâncias que possuem em sua estrutura molecular grupos com afinidade pela água (hidrofílica) e por gorduras (lipofílica) e têm a capacidade de alterar a tensão superficial ou interfacial de um sistema, as quais são geradas por superfícies não homogêneas e/ou diferentes formas físicas (sólido, gasoso, líquido).

Os tensoativos são higienizantes, emulsificantes, condicionantes e antimicrobianos. E são divididos em 4 principais grupos:

 

1 – Tensoativos Aniônicos

Liberam um íon negativo em solução aquosa.

 

 

Alguns exemplos de tensoativo aniônico usados em produtos no mercado são:

– Lauril Éter Sulfato de Sódio (Sodium Laureth Sulfate);

– Lauril Sulfosuccinato de Sódio (Disodium Laureth Sulfosuccinate);

– Lauril Sarcosinato de Sódio (Sodium Lauryl Sarcosinate);

– Lauril Éter Sulfato de Amônio (Amonium Laureth Sulfate).

 

2 – Tensoativos Catiônicos

Liberam um íon positivo em solução aquosa.

 

 

Estes tensoativos apresentam boas propriedades emulsionantes para o produto e aplicados conferem neutralização da carga negativa gerada pelo shampoo, ou seja, reduzem a carga eletrostática.

Segue abaixo alguns exemplos:

– Cloreto de Cetrimônio (Cetrimonium Chloride);

– Cloreto de Behentrimônio (Behentrimonium Chloride);

– Metosulfato de Behentrimônio (Behentrimonium Methosulfate);

– Cloreto de Esteralcônio (Stearalkonium Chloride).

 

3 – Tensoativos Anfóteros

Apresentam carga negativa e positiva na cabeça da estrutura do tensoativo . Em pH alcalino, comportam-se como aniônicos e em pH ácido comportam-se como catiônicos.

 

 

São eles:

 

– Cocamidopropil betaína (Cocamidopropyl Betaine);

– Coco betaína (Coco Betaine);

– Cocoanfodiacetato de sódio (Sodium Cocoamphodiacetate);

– Cocamidopropil hidroxisultaine (Cocamidopropyl Hydroxysultaine)

 

4 – Tensoativos Não Iônicos

Esta classe de tensoativos não contém carga positiva ou negativa na cabeça do tensoativo, portanto não se dissociam em íons na água.

 

 

São utilizados para modificar o agente de limpeza principal, como doadores de viscosidade ou espessantes, solubilizantes auxiliares, emulsificantes, estabilizantes de espuma e, em alguns casos, redução de irritação dérmica e ocular.

Veja alguns exemplos dessa classe:

– Cocamidopropil Amina Óxida (Cocamidoproylamine Oxide);

– Lauril Poliglucosídeo (Lauryl Glucoside);

– Decil Poliglucosídeo (Decyl Glucoside);

– Polisorbato 80 (Polysorbate 80).

 

O QUE REALMENTE SÃO PRODUTOS SULFATE-FREE?

 

Os shampoos e sabonetes líquidos contém como agentes de limpeza tensoativos de caráter aniônico, anfotérico e/ou não-iônico.

O tensoativo aniônico é o agente de limpeza principal e este tipo de matéria-prima possui em sua composição um grupamento sulfato (SO–4) e geralmente é aplicado nas formulações como tensoativo primário por conferir aos produtos alto poder de detergência e formação de espuma.

Estes atributos podem ser uma peça chave na captação dos consumidores, uma vez que muitos associam espuma à limpeza.

Nos shampoos, o tensoativo aniônico mundialmente e amplamente utilizado é o Lauril Sulfato de Sódio (INCI name: Sodium Lauryl Sulfate) e o Lauril Éter Sulfato de Sódio (INCI name: Sodium laureth sulfate) que apresenta alto poder de espumação (formação de espuma rápida e volumosa), alto poder de detergência (limpeza do sebo, sujidades e partículas), facilidade de espessamento e baixíssimo custo.

Entretanto, devido seu alto poder de detergência, tensoativos sulfatados acabam retirando em excesso lipídeos tanto da pele do corpo quanto do couro cabeludo, além da gordura da própria haste capilar. Outra desvantagem é que podem ocasionar maior desbotamento da coloração de cabelos tingidos, maior ressecamento em fios naturalmente ressecados como cabelos cacheados ou crespos, além de ser potencialmente irritante a pele.

Dessa forma, as formulações cosméticas livres de sulfatos são as dos produtos que não contêm tensoativos sulfatados em sua composição, sendo estes substituídos por outras classes de tensoativos.

Na prática, os shampoos sem tensoativos sulfatados são indicados para couro cabeludo sensível, propenso a reações alérgicas e a consequente desenvolvimento de descamações e dermatites; para cabelos que tenham passado por algum processo químico, principalmente os tingidos ou descoloridos, pois já sofrem com deficiência de hidratação e são ressecados; e para cabelos naturalmente finos e frágeis, que já possuem tendência a quebra.

Assim o produto irá eliminar as impurezas sem modificar as propriedades naturais do couro cabeludo e da haste do fio.

 

Então, os principais benefícios dos shampoos sulfate-free são:

 

1 – Evitar o desbotamento dos cabelos, deixando a cor mais viva.

2 – Evitar alergias no couro cabeludo.

3 – É ideal para pessoas com cabelos quimicamente danificados e/ou ressecados, pois mantém o cabelo naturalmente mais hidratado e com aparência mais bonita.

4 – É ótima opção para cabelos naturalmente secos e mais frágeis (como é o caso dos cabelos crespos), pois evita a retirada da oleosidade natural do couro cabeludo.

5 – Previnir a quebra dos cabelos já que evita o ressecamento.

6 – Evitar o frizz.

 

Mas é importante esclarecer que o termo “livre de sulfato” não se refere aos sais inorgânicos (sulfato de sódio, por exemplo), mas sim ao tensoativo aniônico sulfatado, mais especificamente aos álcoois graxos sulfatados ou aos álcoois graxos etoxilados sulfatados, que não devem estar presentes na formulação.

 

PRINCIPAIS ATIVOS PARA SUBSTITUIR OS SULFATOS EM FORMULAÇÕES SULFATE-FREE

 

Devido à expansão do mercado cosmético, os fabricantes de matérias-primas tiveram que buscar novas soluções para atender aos requisitos dessa nova e crescente categoria de produtos, mantendo suas propriedades técnicas e o mesmo tipo de sensorial.

Assim, atualmente alguns dos principais ingredientes que são empregados na substituição dos sulfatos em tensoativos são:

 

1 – Sulfosuccinatos: Possuem bom poder de limpeza e são suaves, com baixo potencial de irritação, ajudam a manter a viscosidade de formulações em baixas concentrações.

Exemplo: Lauril Sulfosuccinato de Sódio (Sodium Laureth Sulfosuccinate), Lauril Éter Sulfosuccinato Dissódico (Disodium Laureth Sulfosuccinate), etc.

 

 2 – Tauratos: São surfactantes que tem alto poder de formação de espuma, estáveis em uma ampla faixa de pH (Sulfatos são instáveis em meio ácido), ideal para produtos apresentados em fórmulas transparentes.

Exemplo: Oleil Metil Taurato de Sódio (Sodium Methyl Oleoyl Taurate).

 

3 – Isetionatos: Tensoativos sofisticados que deixam um toque leve na pele e os fios de cabelo com aspecto macio.

 Exemplo: Lauril Metil Isetionato de Sódio (Sodium Lauroyl Methyl Isethionate).

 

4 – Sarcosinatos: Surfactantes suaves de origem natural, promove a estabilização de espumas e são estáveis em uma ampla faixa de pH.

Exemplo: Lauril Sarcosinato de Sódio (Sodium Laureth Sarcosinate).

 

5 – Poliglicosídeos: São tensoativos provenientes de fontes renováveis de matérias-primas, como óleo de coco ou palmiste, de onde se obtém os álcoois graxos, e de amido de milho ou batata, de onde provém a glicose. Com isto pode-se evitar totalmente a utilização de matérias-primas petroquímicas.

Exemplo: Decil glucosídeo (Decyl Glucoside) e Lauril glucosídeo (Lauryl Glucoside).

6 – Glutamatos: Estes surfactantes são derivados da acilação de aminoácidos do ácido glutâmico e possuem extrema suavidade, bom poder hidratante. Apresenta excelente poder de limpeza, mesmo em águas duras (ricas em eletrólitos).

Exemplo: Cocoil Glutamato de Sódio (Sodium Cocoyl Glutamate).

 

COMO FORMULAR UM SHAMPOO SULFATE-FREE?

1 – Selecione o tensoativo primário ou tensoativo principal:

 

O tensoativo pode ser aniônico. Abaixo seguem algumas opções:

 

– Disodium Laureth Sulfosuccinate 

Vantagens: Baixo custo e baixo potencial de irritação.

 

– Sodium Lauroyl Sarcosinate 

Vantagem: Ótima espumação. Pode ser usado como tensoativo primário ou secundário.

 

 

Sodium Lauroyl Methyl Isethionate

Pode ser espessado com cloreto de sódio, CAPB e Sodium Lauroamphoacetate. Para obter uma espuma muito rica, recomenda-se 30% do tensoativo.

Desvantagem: Custo mais elevado

 

– Disodium Cocoyl Glutamate 

Vantagens: Possui capacidade condicionante do fio, deixando os cabelos com sensação de hidratação além de baixíssimo potencial de irritação.

Desvantagem: Custo

 

2 – Associe pelo menos um tensoativo secundário (co-tensoativo), preferencialmente um anfótero e outro não-iônico:

 

Sugestões:

 

– Cocamidopropil betaína

– Coco-betaine

–  Lauramidopropyl betaine.

Lauryl glucoside

– Decyl glucoside

– Coco-glucoside

3 – Selecione um ou mais espessantes para dar viscosidade à sua formulação:

 

Exemplos de espessantes disponíveis no mercado:

– PEG-120 Methyl Glucose Trioleate

– PEG-120 Methyl Glucose Dioleate

– PEG/PPG-120/10 Trimethylolpropane Trioleate (and) Laureth-2

-Sorbeth-450 Tristearate (and) Water (and) PEG-9 Cocoate (and)
PEG-32 Distearate (and) PEG-175 Distearate

4 – Adicione agentes de condicionamento e demais aditivos de formulação:

 

Agentes de condicionamento: Poliquaternium-7, Polyquaternium-10, goma guar quaternizada, silicones, etc.

Aditivos: Perolizante (precisa ser sulfate-free), quelante (EDTA), acidulante (ácido cítrico), fragrância, corante, etc.

 

PRINCIPAIS DESAFIOS NA FORMULAÇÃO SULFATE-FREE

 

Bem, nem tudo são flores. Existem alguns obstáculos na hora de formular um produto sulfate-free:

Custo mais elevado: Pois os alquil sulfatos e alquil éter sulfatos são os mais baratos existentes;

Baixa espumação: Geralmente, para atingir uma quantidade de espuma adequada ao padrão de aceitação do consumidor, deve-se utilizar uma dosagem mais elevada de tensoativos sulfate-free comparada a dose usual lauril éter sulfato de sódio, resultando em elevado teor de sólidos na formulação total. Muitas formulações sulfate-free apresentam menor espumação;

Dificuldade de espessamento: Outras categorias de tensoativos necessitam espessantes específicos em altas concentrações, de custo muito mais elevado em comparação com o cloreto de sódio.

Embora ainda não exista uma comprovação científica da eficácia superior de produtos sulfate- free, essa tendência vem captando o interesse de muitos consumidores e, consequentemente, de muitos fabricantes de cosméticos.

No mercado Brasileiro há um grande espaço para este tipo de progresso uma vez que nossa variedade de consumidores com diferentes tipos de cabelos é muito vasta.

 

Veja também “COSMÉTICOS SEM GÊNERO: CONHEÇA A TENDÊNCIA GENDERLESS”.

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