COROLAÇÃO CAPILAR: QUAIS TIPOS E MECANISMOS DE AÇÃO DAS TINTURAS CAPILARES?

Com o avanço da tecnologia cosmética aplicada a diferentes sistemas de tinturas para os cabelos, os produtos colorantes estão despontando cada vez mais. Vemos uma explosão de cores e de diferentes tonalidades nos cabelos das pessoas nos dias de hoje.

Mas você sabe como surgiu os produtos para colorir os cabelos? Ou como ocorre o processo de coloração? Os tipos e mecanismos de ação das tinturas capilares, como e onde irão reagir? Qual a aplicabilidade e durabilidade das colorações capilares? Confira!

 

 

A coloração do cabelo é uma técnica antiga usada por homens e mulheres para alterar a cor do cabelo natural ou camuflar a presença de cabelos grisalhos, podendo os fios serem tingidos mais escuro do que a cor original do cabelo ou clareado, com uma explosão de cores e diferentes tonalidades.

Esta invenção acrescentou toda uma nova dimensão para os cosméticos capilares e criou uma enorme indústria de tintura capilar.

E com o avanço da tecnologia cosmética aplicada a diferentes sistemas de tinturas para os cabelos, os produtos colorantes estão despontando como uma forte tendência mundial e sua utilização está cada vez mais frequente.

Mas você sabe como surgiu os produtos para colorir os cabelos?

 

ORIGEM DOS CORANTES CAPILARES

 

Tingir os cabelos é uma arte milenar, que remonta aos tempos da Antiguidade, sendo bastante comum entre os persas, hebreus, gregos e romanos.

Há mais de três mil anos os egípcios foram os primeiros a desenvolver a técnica de tintura de tecidos e de cabelos, utilizando inúmeros corantes que extraíam de frutas, casca de árvores, sementes, insetos, ervas, folhas, minerais e outros materiais.

Estes mesmos corantes foram utilizados por muitas civilizações no decorrer dos séculos, e mesmo até nos dias atuais. Existem vários relatos na Bíblia e no Talmud, revelando que o povo hebraico utilizava várias formas de óleos e de tinturas extraídas de pedras coloridas para dar maior alegria e beleza aos cabelos.

Os antigos gauleses e saxões tingiam seus cabelos de cores vibrantes como forma de demonstrar sua posição e provocar medo em seus inimigos. Homens babilônicos salpicavam os cabelos com pó de ouro.

Tinturas metálicas contendo acetato de chumbo, obtidas mergulhando pentes de chumbo em vinho azedo, eram usadas pelos homens romanos para cobrir cabelos cinzas.  As egípcias usavam o Kohl para escurecer os fios e a hena para produzir uma cor de cabelo laranja-avermelhado.

As misturas elaboradas na Antiguidade eram mais voltadas ao escurecimento dos cabelos, mas também havia métodos para deixar os fios loiros, expondo os fios pintados a luz do sol por horas. As mulheres romanas, por exemplo, clareavam seus cabelos aplicando lixívia (um tipo de alvejante que tem origem na lavagem das cinzas da madeira e consiste em mergulhar as cinzas do fogo em um pote com agua fria e deixar descansar ali por algumas horas , era coada agua que se transformava em um liquido descolorante impregnado de sais alcalinos (OH) resultado da madeira queimada) seguido de exposição ao sol.

Na Roma Antiga, as cores dos cabelos das mulheres indicavam sua posição social: as nobres tingiam os cabelos de vermelho, as da classe média os coloriam de loiro e as plebeias, de preto.

Índios brasileiros pintavam os cabelos brancos com uma pasta feita de jenipapo. Outra planta, urucum, é usada por índios de várias regiões do continente americano desde tempos remotos, para tingir cabelos e pintar o corpo.

Ao longo da história, muitos métodos foram empregados para ampliar o espectro de cores de tinturas de cabelo. Na Idade Média, pessoas com cabelos ruivos eram associadas a pratica da bruxaria e só passaram a ser aceitos no século 16, graças a beleza dos fios ruivos da rainha Elizabeth I.

Súditas recorriam a henna para tornar os cabelos avermelhados como as da rainha e perucas elaboradas começaram a ganhar destaque. Cobertas de talco, as perucas tinham cores em tons pastel, que variavam entre rosa, amarelo e azul.

Embora a henna e outras misturas de plantas, animais e minerais tenham sido usados para colorir o cabelo por mais de 3.000 anos, a química orgânica sintética moderna fez do século 20 a era da cor do cabelo.

Toda a indústria de coloração artificial capilar começou quando o químico alemão August Wilhelm von Hofmann, em 1863, notou que a p-fenilenodiamina (PPD) produziu uma coloração marrom-escura quando oxidada.

As pesquisas de Hofmann sobre as propriedades de coloração do PPD levaram ao desenvolvimento de tinturas capilares artificiais, provocando uma verdadeira revolução na indústria cosmética e sua descoberta domina o campo até os dias atuais.

Apenas 4 anos depois, estudos realizados em parceria entre o químico britânico E. H. Thielly e o cabeleireiro francês Leon Hugot esclareceram os benefícios do peróxido de hidrogênio, que comparado a soluções alcalinas, provocavam menos queda de cabelo.

Imagem: L’Oréal

As duas descobertas abriram caminho para que o químico francês Eugene Schueller apresentasse ao mercado, em 1907, a primeira tintura permanente oxidante segura– com base na substância p-fenilenodiamina – que era capaz de clarear a cor natural dos fios.

Schueller batizou a primeira tintura química comercial segura com o nome “Aureole”, e ela estava disponível em uma pequena gama de cores. Essa primeira tintura sintética para cabelos permitiu a criação da Companhia Francesa de Corantes para Cabelos, que pouco tempo depois teve seu nome alterado para L’Oréal, empresa que ainda hoje é líder em tecnologia de coloração capilar.

Eugene Schueller, ainda foi o primeiro a indicar o teste de mecha como etapa do processo de coloração e ajudou a criar produtos para a descoloração dos fios que revolucionaram ainda mais a indústria. Pela primeira vez se tornou possível clarear para valer a cor natural do cabelo e morenas poderiam se tornar loiras ou loiras ficarem mais loiras, e assim bombou os cabelos platinados. Uma revolução e avanço enorme para a época!

A partir de 1931, começou a surgir outras alternativas como os tonalizantes, shampoos e cremes que eram opções mais rápidas para chegar ao efeito desejado de mudar a cor do cabelo e o visual.

Nesta época, o químico norte-americano Lawrence Gelb fundou, juntamente com sua esposa, a empresa Clairol, após comprar as fórmulas originais de coloração de cabelo do Dr. Friedreich Klein, um químico alemão, por US$ 25.000. Em 1938, as vendas da coloração de cabelo Clairol haviam chegado a US$ 1 milhão.

A primeira cor de cabelo introduzida pela Clairol foi chamada de ‘Instant Clairol’, e o corante utilizado penetrava mais profundamente nos fios, produzindo tonalidades mais suaves, com aparência mais natural e duradouras. Foi o primeiro shampoo tonalizante da marca no mercado e se tornou sucesso logo ao ser lançado.

Em 1950, depois de anos de pesquisa, a Clairol apresentou ao mercado a primeira tintura que clareava os cabelos sem alvejante, em um processo que em uma única etapa coloria, clareava e condicionava em apenas 20 minutos, possibilitando um salto na trajetória das tinturas capilares.

Originalmente, a coloração do cabelo era limitada ao salão profissional, mas em 1956 foi introduzida a primeira tintura de cabelo para uso doméstico com uma versão batizada de Miss Clairol, que foi promovida por uma das mais eficientes campanhas publicitárias de todos os tempos: “Ela faz… ou não faz? A cor do cabelo é tão natural que somente seu cabeleireiro sabe com certeza”. Em seis anos, 70% das mulheres estavam colorindo seus cabelos e as vendas aumentaram 413%.

Desde então, a indústria de cosméticos não parou mais de descobrir e desenvolver produtos e técnicas no ramo da beleza e cabelo. Dos tons tradicionais as tonalidades que não são encontradas na natureza, atualmente o mercado oferece uma grande variedade de cores, divididas em diferentes tipos de colorações.

Mas, para entender melhor sobre os tipos e processos de colorações capilares, como e onde irão agir e reagir, se faz necessário a revisão de alguns conceitos e definições sobre a haste capilar e os pigmentos naturais contidos nela.

 

O CABELO

 

Em geral, os cabelos são constituídos de proteínas formadas por longas cadeias de aminoácidos, ligados entre si por diferentes tipos de interações, sendo a queratina a principal proteína presente nos fios.

A fibra capilar é composta por cutícula, cortéx e medula.

A cutícula corresponde a estrutura externa da fibra e constitui fundamentalmente de queratina, a proteína responsável pela elasticidade e flexibilidade. Atua como uma camada protetora, protegendo os cabelos contra os danos e agressões externas, sendo também responsável pelas características sensoriais dos cabelos como maciez, brilho e desembaraço.

O córtex é rodeado pela cutícula, contém a maior parte da fibra do cabelo, e tem alto grau de organização estrutural, sendo responsável pela elasticidade e resistência dos fios.  Ele é formado por células alongadas que contêm o pigmento natural do cabelo, a melanina, e por restos de núcleo celular.

E por último temos a medula que está localizada no centro da fibra capilar, no qual nem sempre está presente. Ela é a camada mais interna do fio, formada por células de estrutura esponjosa, com cavidades ocas. A função da medula ainda não foi completamente definida, mas sabe-se que ela é responsável pela flexibilidade do fio e acredita-se que possivelmente a medula atue como um reservatório de melanina e esteja relacionada com o brilho da fibra capilar.

A COR NATURAL DO CABELO

 

O pigmento que dá a cor natural dos cabelos é chamado de melanina e está presente no córtex da fibra capilar.

E essa cor natural dos cabelos é controlada geneticamente, sendo produzida por grânulos de pigmentos formados nos melanócitos presentes no bulbo capilar e então transferidos para as células do córtex e medula, através de prolongamentos existentes nos melanócitos.

Os melanócitos produzem uma série de pigmentos com diferentes estruturas e composição química. Variando-se a natureza do pigmento, a quantidade e modo de distribuição no cabelo, podem ser produzidos uma larga faixa de cores.

E essa grande variedade de cor natural do cabelo se dá pelas características de 2 tipos principais de melanina que criam a cor natural do cabelo e a concentração de cada um é que determina as nuances. São elas:

1 – Eumelaninas

Quimicamente, as eumelaninas são polímeros que consistem principalmente em 5,6-di-hidroxiidol (DHI) e, em menor quantidade, de 5,6-di-hidroxi-indól-2-ácido carboxílico (DHICA), ligados através de vários tipos de ligações carbono-carbono.

É o tipo mais comum de melanina e é o principal pigmento encontrado nos cabelos castanhos a preto.

 

2 – Feomelaninas

Muito pouco se sabe sobre a estrutura geral das feomelaninas, que incluem diversos pigmentos de diferentes estruturas e composições. Em termos amplos, as feomelaninas caracterizam-se por complexa mistura de polímeros que contêm alta porcentagem (10-12%) de enxofre, apresentando-se principalmente em unidades de 1,4-benzo-tiazinil-alina unidas aleatoriamente através de vários tipos de ligações.

É menos abundante e é o pigmento encontrado nos cabelos louros a ruivos.

 

 

A cor natural do cabelo humano resulta principalmente das proporções relativas desses dois tipos de melanina, a eumelanina e a feomelanina, e da quantidade total de melanina presente no cabelo.

Cabelos escuros e castanhos apresentam grande quantidade de eumelanina e cabelos loiros e ruivos grandes quantidade de feomelanina.

São essas variações que dão origem à escala de alturas de tom, que variam do 1 ao 10 partindo dos cabelos mais escuros (1) aos mais claros (10).

 

Somente o cabelo completamente branco não contém qualquer tipo de melanina, uma vez que o branco é a cor real da queratina sem a influência da melanina.

O cabelo cinzento ou branco resulta da diminuição da produção de melanina pelos melanócitos, e é a manifestação mais clássica do envelhecimento. Isso normalmente acontece entre os 28 e 42 anos de idade. A chegada dos cabelos brancos pode-se também ser causado por outros fatores além da idade, como distúrbios na tireoide ou problemas de anemia.

Atualmente, existe uma ampla gama de produtos para mudar a cor natural do cabelo disponível aos consumidores.

Mas o que é uma tintura capilar?

 

TINTURAS CAPILARES E SEU MECANISMO DE AÇÃO

 

As tinturas capilares são o resultado de uma série de reações químicas entre as moléculas do cabelo, pigmentos, agentes oxidantes e pH, podendo ser definidas como produtos que alteram a aparência da cor do cabelo temporária ou permanentemente, removendo parcialmente a cor natural do cabelo, adicionando (depositando) nova cor artificial, ou mesmo fazer os dois ao mesmo tempo.

Elas oferecem uma variedade de resultados, desde uma cor sutil a uma mudança significativa na cor natural do cabelo, com base em tecnologias de tingimento muito diferentes.

Mas há um problema com relação à tintura de cabelo humano, um paradoxo: a porção externa do cabelo humano, ou cutícula, apresenta inúmeras camadas interligadas e caso se deseje que a cor não saia do cabelo ou não seja facilmente lavada, as moléculas do corante devem penetrar na cutícula e serem absorvidas pelo córtex.

No entanto, diferente dos tecidos, que podem ser tingidos em temperaturas altas e por muitas horas, o cabelo humano deve ser tingido em temperatura ambiente, com período de aplicação relativamente curto.

Portanto, para que as moléculas penetrem na cutícula do cabelo humano, elas devem espalhar-se muito rapidamente. Isto significa que as moléculas que constituem as tinturas de cabelo devem ser pequenas. Contudo, para colorir o suficiente e ser utilizada como corante, a molécula deve ser relativamente grande: Este é o PARADOXO.

Embora pareça uma situação impossível, há algumas diferentes soluções para o problema, e cada solução dá origem a um tipo diferente de produto colorante para os cabelos.

Dessa forma, existem diferentes sistemas de coloração capilar que fixa a cor de maneira diferenciada, dando tempos diferentes de permanência nos fios. Eles podem ser tanto tinturas naturais quanto sintéticas. São eles:

 

1 – Coloração Natural

A henna é a tintura natural mais utilizada na modernidade, os pigmentos ficam sob a cutícula dos cabelos, sua duração varia entre 10 a 15 lavagens, mas apesar de ser natural, isso não significa que seja mais seguro ou suave do que uma formulação sintética. É difícil obter resultados consistentes e constantes com os corantes naturais, além de algumas pessoas serem alérgicas a eles.

 

2 –  Coloração Sintética Temporária

Neste caso são utilizados corantes que apresentem moléculas demasiadamente grandes em sua composição, que não podem atravessar a cutícula do cabelo sob condições normais, o que explica sua natureza temporária.

Como as colorações temporárias não abrem as cutículas dos cabelos, elas atuam, na grande maioria das vezes, por deposição, e não precisam ser misturadas a nenhum outro componente para ser aplicado nos cabelos, por isso são também conhecidas como “colorações diretas”.  Sua duração varia de 2 a 4 lavagens.

Dessa forma, os produtos de tintura de cabelo que usam tais corantes são formulados sem amônia ou peróxido de hidrogênio. Deixa-se a solução de corante secar sobre o cabelo e os corantes se depositam sobre a superfície da cutícula, atraída, na maioria das vezes por diferença de polaridade, sem mudar quimicamente a estrutura do cabelo.

 

Mecanismo do Sistema de Coloração Temporária.

A desvantagem das tinturas temporárias é que os corantes não clareiam a cor natural do cabelo porque a estrutura química capilar não é alterada, além de serem muito solúveis em água, assim, a cor é desbotada pelo uso de shampoo, e até pela simples umectação dos cabelos, fazendo voltar a cor original dos fios. A exposição à chuva pode transferir o corante para as roupas ou pode mesmo colorir a pele; podendo também até manchar superfícies como roupas de cama.

Eles são usados para intensificar a cor natural dos cabelos ou escurece-los dando nuances da moda, como por exemplo os tons achocolatados, acobreados e avermelhados, além de dar um brilho extra, mascarar os cabelos brancos adicionando um enxágue temporário azulado ou arroxeado ao cabelo após a lavagem ou tingir com cores fantasia para criar cabelos azuis, verdes, rosa ou roxos temporariamente, sendo facilmente removidos por lavagem. Esses efeitos capilares são criados por formulações sob a forma de sprays, shampoos e condicionadores coloridos, gel, emulsão ou em solução para aplicação única ou contínua.

Exemplo de corantes temporários: Acid Yellow I CI 10316; Basic Red 76 CI 12245.

 

3 –  Coloração Metálica ou Gradual

As tinturas de cabelo graduais, também conhecidas como tinturas metálicas ou progressivas, são um tipo de coloração temporária, de aplicação contínua. Elas recorrem a catalisadores metálicos que reagem formando sais metálicos solúveis em água que são depositados sobre a haste.

O metal mais comum usado é o chumbo, mas prata, cobre, bismuto, níquel, ferro, manganês, e cobalto também podem ser usados.

No Brasil, a concentração de chumbo em tintura capilar foi restrita a uma concentração máxima de 0.6% devido a toxicidade deste material e seu efeito acumulativo no organismo.

A aplicação diária da coloração progressiva conduz ao escurecimento gradual do cabelo. Porém, não há controle sobre a cor final do cabelo, apenas a profundidade da cor, e o clareamento não é possível.

Além disso, os traços de metais deixados no cabelo não permitem resultados previsíveis quando combinado com outros procedimentos de tingimento ou ondulação permanente, podendo causar a ruptura da haste capilar.

Dessa forma, o cabelo que foi tratado com um corante de cabelo progressivo deve, portanto, crescer antes que outros procedimentos de tingimento ou ondulação sejam usados para garantir um resultado ideal. Por isso, este tipo de coloração de cabelo é mais popular entre os homens que desejam apenas escurecer os cabelos grisalhos gradualmente.

 

4 –  Coloração Sintética Semipermanente

Outra solução ao grande paradoxo da tintura de cabelo envolve o uso de moléculas de tamanho intermediário.

Estes corantes com moléculas de tamanho intermediário realmente penetram na cutícula do cabelo e são depositados no córtex, permitindo um maior efeito duradouro e mudando a tonalidade sem retirar a cor original dos cabelos, ou seja, sem o poder de clarear a cor natural dos fios, apenas escurecer, sem provocar alterações drásticas na fibra capilar.

As tinturas semipermanentes também conhecidas como tonalizantes são formuladas sem amônia, mas podem ser associadas a um agente oxidante durante a aplicação. Elas contêm uma mistura de corantes não iônicos pré-formados, sendo os nitro corantes o grupo mais utilizados nesses produtos, pois são pouco influenciados por cargas negativas na superfície do cabelo, e assim conseguem penetrar melhor na cutícula do cabelo.

Entretanto, os corantes utilizados neste tipo de produto não se espalham completamente através da cutícula para o córtex, e assim eles retornam novamente para fora. Dessa forma, ao lavar os cabelos os shampoos os remove gradualmente. Em geral, eles saem do cabelo com 12 a 15 lavagens, o brilho acaba e o cabelo cinza começa a aparecer, sendo necessário reaplicar o produto.

 

Mecanismo de Sistema de Coloração Semipermanente.

As colorações semipermanentes podem ser usadas para cobrir os fios brancos ou realçar a cor do pigmento do cabelo, sendo ideal para dar um banho de brilho nos fios e para cabelos com química, principalmente para cabelos que recebem alisamentos regularmente.

Estes produtos, também, de forma geral, proporcionam abertura das cutículas, necessária para otimizar a absorção dos corantes pelo córtex, como consequência deste mecanismo, há diminuição da maciez, brilho e aumento do esforço necessário para pentear.

Exemplo de corantes semipermanentes: N-(2-hidroxietil)-o-nitroanilina HC Yellow N°1; O,N-bis(2-hidroxietil)-2-amino-5-nitrofenol HC Yellow N°4.

 

5 –  Coloração Sintética por Oxidação ou Permanente

A maioria das colorações permanentes usam um processo em duas etapas (que geralmente ocorrem simultaneamente), primeiro a cor original é removida para que em seguida a nova cor seja depositada no córtex dos cabelos e para que isso aconteça, a cutícula do cabelo é aberta.

As tintas permanentes são baseadas na reação entre 4 componentes principais: agente percussor, agente acoplador, agente oxidante e agente alcalinizante.

Agentes Percursores: Também são conhecidos corantes primários, intermediários primários ou bases de oxidação, são as moléculas incolores e as aminas aromáticas e seus derivados.

Agentes Acopladores: São compostos aromáticos geralmente com grupos doadores de elétrons localizados em posição meta em relação um aos outros. Os acopladores não produzem cor ao serem oxidados, mas, quando reagem com o produto da oxidação dos intermediários primários, na presença de um agente oxidante, formam compostos coloridos.

Agentes Oxidantes: O mais utilizado é o peróxido de hidrogênio e, em alguns casos especiais, é o oxigênio do ar. O oxidante tem duas funções:

a) revelar a cor do corante no cabelo, oxidando os intermediários primários para que estes logo reajam com os acopladores;

b) clarear a base natural do cabelo, por degradação da melanina em presença de um alcalinizante.

Em geral, quando as colorações permanentes são misturadas nas proporções determinadas pelos fabricantes com o peróxido de hidrogênio a 20 volumes, elevam a capacidade de clareamento em um ou dois tons.

As colorações permanentes assim igualmente misturadas com peróxido de hidrogênio a 30 volumes elevam sua capacidade de clareamento em cerca de 3 tons e quando misturadas a 40 volumes, elevam essa capacidade em até 4 tons.

Agente Alcalinizante: Os mais utilizados são hidróxido de amônia, monoetanolamina, aminometilpropanol e carbonato de cálcio. O alcalinizante tem duas funções:

a) abrir a cutícula permitindo que a coloração penetre no córtex capilar para a revelação da cor. Também atua como um catalisador (substância que modifica a velocidade de uma reação química) quando na formulação da tintura tiver água oxigenada;

b) clarear a base natural do cabelo, por degradação da melanina, na presença de um agente oxidante.

O processo baseia-se, portanto, na oxidação de precursores incolores que, em meio oxidante alcalino, penetram até ao córtex e aí reagem com acopladores para formar moléculas de elevada massa molecular que ficam retidas no interior da haste capilar, atribuindo-lhe cor.

Dessa forma à medida que a melanina é descolorida, uma nova cor permanente entra no córtex do cabelo. Por isso é necessário uma reação com um tempo mais prolongado, geralmente 45 minutos. Com este tipo de coloração é possível obter uma elevada diversidade de cores de longa duração, de acordo com as combinações entre precursores e acopladores.

 

Mecanismo de Sistema de Coloração Permanente.

Porém se o meio oxidante alcalino for mais suave, os corantes fixam-se em menor extensão e são denominados colorações demipermanentes. Este meio reacional permitirá atingir uma cobertura de cerca de 50% dos cabelos e menor diversidade de cores.

A coloração permanente é denominada assim porque a cor obtida permanece no interior da fibra capilar proporcionando resultados mais intensos e duradouros, e apenas pode ser retirada dos fios por descoloração.

Por isso, esse tipo de produto fornece uma coloração eficaz permanente, resistente à lavagem e outros fatores externos, como como escovação, fricção, luz, etc. Este é o processo mais utilizado, e representa pelo menos 80% do total de colorações realizadas.

Este tipo de coloração dura por muito tempo nos cabelos, aproximadamente 4 a 6 semanas, colore 100% dos cabelos grisalhos, alterara a cor, pode clarear ou escurecer a cor natural dos cabelos conseguindo clarear os fios em até quatro tons. É ideal para quem quer mudanças radicais, sendo possível fazer a reaplicação apenas na região de crescimento natural.

No entanto, quem faz relaxamento ou outras químicas como escovas progressivas precisam tomar bastante cuidado: os ativos dessa coloração não costumam ser compatíveis com alisamentos e podem provocar danos irreversíveis a fibra capilar.

Por ser um processo alcalino, este tipo de coloração é o mais agressivo aos fios de cabelo, e como consequência deste mecanismo, há diminuição da maciez, brilho, aumento do esforço necessário para pentear, além da diminuição de atributos indispensáveis e desejados em um cabelo saudável.

Também é importante fiscalizar o potencial de toxicidade e alergênico deste tipo de coloração aos seres humanos, por terem uma maior penetração no couro cabeludo e uma maior durabilidade.

 

TOXICIDADE DOS CORANTES NAS TINTURAS CAPILARES

 

Antigamente ninguém acreditava que os corantes presentes nas tinturas capilares poderiam causar algum malefício para o organismo humano. Porém, já é conhecido que os produtos topicamente aplicados podem ser absorvidos, levando a diversos efeitos sistêmicos.

Por isso, os possíveis efeitos tóxicos decorrentes da exposição da população a produtos cosméticos vêm sendo reavaliados por diversos autores, utilizando ensaios toxicológicos mais modernos.

Em alguns estudos realizados acerca da toxicidade de tinturas capilares demostraram que os percursores como o resorcinol, usado como ingrediente na formulação de corantes, atuam como desreguladores endócrinos afetando a função da tireoide.

Outro percursor a p-fenilenodiamina (PPD) vem sendo abolida nas formulações de coloração capilar. Muito utilizado em colorações permanentes, o PPD tem levantado preocupações para a saúde humana devido a riscos associados a alergias, dermatites e nefrotoxicidade.

O uso de PPD também já foi relacionado a incidência de câncer, porém o risco do desenvolvimento de diferentes tipos de câncer após o uso regular de tinturas capilares ainda não está bem estabelecido, considerando a discrepância entre os estudos publicados até o momento, bem como ainda não há evidências que a exposição ocupacional ou ocasional a tinturas de cabelo cause algum efeito tóxico na reprodução humana.

É importante salientar que a incidência de alergias induzidas pela utilização de tinturas, principalmente devido à presença de PPD, tem sido gradativamente reduzida devido à utilização de luvas durante o processo de tingimento e às advertências nos rótulos dos produtos sobre a necessidade de realização do teste de sensibilidade antes da aplicação.

Mas, devido aos riscos, a causa PPD-free, começou a se alastrar em todo o mundo, bem como a procura por um novo pigmento de menor agressividade para a saúde do couro cabeludo, e que cubra 100% dos fios brancos. Assim, as primeiras tinturas contempladas com fórmulas livres de PPD foram preparadas para a aplicação por profissionais, para uso exclusivo em salões.

Mas ainda se tem poucos estudos focando nas consequências para a saúde humana envolvendo os corantes, sendo extremamente necessário que mais pesquisas sejam desenvolvidas, visto que são utilizados de maneira extensa por nós e já foi comprovado que podem ser absorvidos pela pele.

 

Veja também “QUÍMICA DO CONDICIONADOR – COMO MELHORAR A MALEABILIDADE DOS FIOS?”.

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Referência:

DOS SANTOS, Andreza Carneiro. Fibra Capilar, Agentes de Coloração e Descoloração: Química, Mecanismos de Ação e Danos Oxidativos. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Tricologia) – Faculdade Faserra, Manaus, 2017. Acesso em: 29 set. 2021.

BAILER, Ana Claudia et al: Uma abordagem sobre os conceitos, classificação e suas funções. Revista de Iniciação Científica, Saúde e Bem-estar, vol. 6, n. 5, abril de 2017. Edição Temática em Saúde e Bem-estar da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

Tricologia e a Química Cosmética Capilar. 5 ed. Halal, John.

Cosmetics and Toileitres. Ed. Temática. Agosto 2020.

Cosmetics and Toileitres. Ed. Temática. Setembro 2016.

https://www.bellkey.com.br/tipos-de-melaninas-o-que-da-a-cor-dos-cabelos/

https://www.quimica.com.br/cosmeticos-tinturas-europa-comeca-a-banir-pigmentos-irritativos-a-brasil-deve-seguir-medida/

https://www.scielo.br/j/qn/a/xgBbdhZqnGT9Xhvjr6L7hBw/#:~:text=Outros%20estudos%20indicam%20que%20precursores,a%20alergias%2C%20dermatites%20e%20nefrotoxidade.

Explicando a química dentro de uma fórmula da coloração permanente

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