ESPESSANTES OU AGENTES DE CONSISTÊNCIA

Criar a textura mais adequada ao gosto dos consumidores pode fazer a diferença no concorrido mercado de cosméticos. Afinal, uma textura adequada potencializa e direciona a aceitação e a preferência dos consumidores na escolha de um produto de cuidado pessoal. E os espessantes são essenciais para que isso ocorra. Portanto, entenda mais sobre espessantes ou agentes de consistência nas formulações cosméticas. Confira!

As características sensoriais estão entre os primeiros atributos percebidos pelo consumidor na escolha de um produto de cuidado pessoal. Por isso, desenvolver uma formulação cosmética é uma arte.

E o trabalho do artista em pesquisa e desenvolvimento de cosméticos resulta em um produto de consumo que deve cumprir normas regulatórias especificas e satisfazer as necessidades dos consumidores.

Ao contrário da criação de uma obra de arte, em que o artista externa sua emoção ou visão diante de um determinado tema ou acontecimento, o desenvolvimento de uma formulação exige criatividade, cuidado, atenção e esmero para realizar bem o trabalho, a sensibilidade para escolher ingredientes e até a intuição para interpretar resultados, dados técnicos ou resolver determinados problemas.

E o conhecimento é um grande aliado desse artista. Portanto, entenda sobre espessantes ou agentes de consistência nas formulações cosméticas.

 

ESPESSANTES OU AGENTES DE CONSISTÊNCIA

 

Segundo a legislação brasileira, espessante é uma substância capaz de aumentar a viscosidade de soluções, emulsões e suspensões. Dessa forma, os espessantes ou agentes de consistência possuem a capacidade de aumentar a viscosidade do meio, impactando em sua estabilidade, características sensoriais, aparência e funcionalidade.

Com características distintas e muitas vezes únicas, os hidrocolóides exercem papel funcional fundamental em muitas matrizes cosméticas. Suas funcionalidades são atingidas a partir de mecanismos específicos, podendo ser via reação iônica, redução de pH, cisalhamento, presença de alta concentração de sólidos e aquecimento, porém a presença da água e a interação com a mesma é que permite as diversas propriedades.

Dentre os tipos de hidrocolóides, existem aqueles que são solúveis a frio e aqueles que são solúveis apenas quando submetidos ao aquecimento. A solubilidade é de fato a interação do hidrocolóide com a água e que depende da composição da molécula e seus respectivos grupos funcionais ligados a ela.

Os espessantes são usados para dispersar, estabilizar ou evitar a sedimentação de substâncias em suspensão. Emprega-se na produção de cosméticos como agente estabilizador de sistemas dispersos, como suspensões (sólido-líquido), emulsões (líquido-líquido) ou espumas (gás-líquido).

Os espessantes ou agentes de consistência são classificados em:

 

1 – Lipídicos

São usados em cosméticos, primeiramente, para adicionar viscosidade as formulações. Em filtros solares, ajudam a aumentar a espessura da película na pele e a sua resistência à água. As ceras também formam filmes hidrorrepelentes e melhoram a suavidade e a textura de emoções. Entretanto, deve-se observar o ponto de fusão para melhor adequar cera ao produto final.

 

2 – Vegetais e Animais

Entre os espessantes vegetais e animais temos as gomas, que são polímeros geralmente de cadeia longa e alto peso molecular que se dispersam em água modificando as propriedades físicas de sistemas aquosos na forma de gelificação, espessamento, emulsificação e/ou estabilização. São usadas desde tempos antigos e são classificadas em:

 

Gomas Naturais: Encontradas na natureza, possuem uma longa história de uso. Muitas são adicionadas em alimentos, dessa maneira, sua segurança está bem comprovada.

Gomas Modificadas: São substâncias químicas derivadas de produtos naturais, como celulose ou amido modificado.

Gomas Sintéticas: Produtos químicos sintetizados.

Goma de tragacanto: Soluções dessa goma têm viscosidade extremamente alta. Em concentrações de 5% em água, forma um gel viscoelástico. As soluções são ácidas, com pH 5-6, e a viscosidade é estável em ampla variação de pH (até cerca de 2).

 

Goma guar: É solúvel em água em temperatura ambiente.

 

Goma de alfarroba: Quando aquecida com goma xantana na proporção de 1:1 e deixada esfriar, forma um gel termo reversível. É solúvel em água a 80-90ºC.

 

Goma arábica: Altamente solúvel em água. Podem ser preparadas soluções com concentração da goma superior a 50%; as soluções são levemente ácidas. Tem aplicações limitadas como ligante e estabilizante de emulsões.

 

Goma xantana: Se dissolve facilmente na água em temperatura ambiente, em ampla faixa de variação de pH e em concentrações salinas. É solúvel em glicerol a 65ºC, mas insolúvel em outros solventes orgânicos e óleos cosméticos. Entretanto, uma vez dissolvida em água, pode-se adicionar nesta até 40% de acetona, etanol ou isopropanol sem precipitar a goma. Acrescenta sensorial agradável a pele, quando usada em cosméticos.

 

Gelatina: É um coloide proteico natural, com propriedades gelificantes e estabilizantes em fases aquosas. Forma géis termicamente reversíveis.

 

Celulose: É a estrutura de polissacarídeo mais fácil de ser encontrada. Constitui metade do material de membrana celular da madeira e de outros produtos vegetais.

 

Amido: Um derivado do amido de milho, o amido-poliacrilato de sódio, por exemplo, é uma família de polímeros hidrogelantes que diminui a adesão do produto a pele e melhora a sensação e suavidade. Proporciona viscosidade consistente em ampla variação de temperatura e pH, e não necessita de neutralização.

 

Pectina: É facilmente solubilizada em água, originando soluções viscosas, estáveis. Possui propriedades tensoativas e grande capacidade de reter água e formar na pele um filme refrescante adstringente e facilmente absorvível.

 

Agar: Insolúvel em água fria, mas solúvel em água fervente. Quando resfriada a 35°C, forma um gel firme que é estável até cerca de 85°C.

 

Algina: São excelentes formadores de filmes. Em cosméticos, são usados como coemulsificantes e espessantes para géis. A viscosidade desses géis pode ser controlada com sais de cálcio.

 

Carragenana: Industrialmente, é produzida por extração alcalina a quente.

Entretanto, existem alguns inconvenientes nessa categoria de ingredientes, tais como:

 

 

 

3 – Espessantes Minerais e Minerais Modificados

Sílica: Forma géis tixotrópicos, ou seja, o gel tem a capacidade se liquefazer à medida que lhe aplicamos uma determinada quantidade de calor ou uma força mecânica e após cessar o calor ou força aplicada, esse mesmo gel, então liquefeito, possui a capacidade de voltar ao seu corpo original. Ela deixa a sensação áspera na pele. Concentração usada: 2-3%.

 

Bentonita: Podem formar géis opacos quando combinadas com gomas de celulose. Também são usadas em atiperspirantes em aerossol e roll-on. Em água a 2% o pH é de 9 a 11.

 

Estearatos de alumínio: Formam lipogéis e deixam sensação pegajosa na pele. Podem ser usadas como espessantes adstringentes em emulsões e formulações absorventes em pó.

 

Estearato de zinco: Dá característica graxa as preparações em pó.

 

Silicato de magnésio-aluminio: Diminui a pegajosidade das gomas orgânicas; melhora a sensação e a textura de preparações cosméticas.

 

Hidroxiestearato de Al-Mg: Gelificante hidrofóbico de óleos capaz de gelificar ampla variedade de óleos cosméticos comumente usados em sistemas géis, que incluem emulsões A/O, pós, batons e lápis para lábios e olhos. Ajuda a regular a viscosidade e a melhorar a estabilidade de emulsões cosméticas, além de facilitar a suspensão de pigmentos em formulações anidras.

 

4 – Espessantes Sintéticos

Carbômeros: São resinas formadas por polímeros do ácido acrílico de variados graus de polimerização. Ao serem neutralizadas por uma base hidrossolúvel, as moléculas da resina se estendem e se intumescem completamente, fazendo com que a viscosidade aumente significativamente. Na preparação de dispersões deve-se utilizar agitação de média moderada, aproximadamente de 800 a 1200 rpm.

 

Acrilatos/metacrilatos: Emulsões brancas, leitosas, fluidas, com 30% de conteúdo sólido e pH 3. Quando neutralizadas, tornam-se espessantes e estabilizantes eficazes para preparações aquosas.

 

Derivados de polietilenoglicol: Os polietilenoglicóis de maior peso molecular são usados como espessantes e reguladores de viscosidade. Já derivados como estearatos e diestearatos são espessantes usados em soluções tensoativas como shampoos e sabonetes líquidos.

 

ESPESSANTES EM EMULSÕES

 

Em uma emulsão, as gotículas de óleo, por terem menor densidade do que a água na qual estão suspensas, têm a tendência de migrar para a superfície, facilitando o fenômeno de floculação e eventualmente o de sedimentação ou cremeação.

Dessa forma, aumentar a viscosidade da fase externa é um método eficaz para aumentar a estabilidade da emulsão. A adição de ingredientes graxos às emulsões aumenta a sua viscosidade, forma filmes hidrorrepelentes quando aplicados a pele e melhora o sensorial. Em batons, as ceras dão brilho e melhoram as propriedades de moldagem, por exemplo.

 

Emulsões O/A

O uso de espessante hidrocoloide, como carbômero ou goma xantana, é necessário para aumentar a estabilidade térmica e eletrolítica de emulsões O/A. As emulsões tipo leite podem ser estabilizadas com a adição de um doador de viscosidade não iônico.

As propriedades cosméticas das emulsões O/A são determinadas apenas pelos componentes da fase oleosa. Nessas emulsões, a consistência também pode ser regulada com a adição de ingredientes hidrofílicos polares. Com a fase aquosa, formam estruturas lamelares de líquido cristalino nas emulsões.

 

Emulsões A/O

A adição de espessantes a emulsões A/O tem os objetivos de aumentar a estabilidade durante a estocagem por longo período, a estabilidade térmica e a forma de escoamento tixotrópico.

A viscosidade pode ser regulada pela introdução de ingredientes graxos na fase externa. Esses materiais aumentam a estabilidade em longo prazo, mas atuam pouco em temperaturas acima de 40°C. Além disso, as ceras polares, como a de abelha e a de candelilla, podem reduzir a sensação oleosa.

A adição de derivados de magnésio, como estearato ou hidroestearato, pode trazer benefícios, por exemplo: maior estabilidade da emulsão e da viscosidade em altas temperaturas, manutenção do comportamento tixotrópico e aumento da viscosidade.

Uma forma de escoamento tixotrópico pode também ser obtida com a adição de sílica defumada a emulsões A/O. A tixotropia aumenta a estabilidade durante o armazenamento e as características de espalhabilidade de cremes na pele. A sílica também melhora a estabilidade e diminui a sensação de ressecamento da pele em emulsões A/O com “baixo nível de emulsificação”.

 

ESPESSANTES EM OUTRAS CATEGORIAS

 

Soluções tensoativas são geralmente espessadas pela adição de cloreto de sódio. Em soluções relativamente concentradas, como sabonetes líquidos, as moléculas do tensoativo não estão separadas nem se movem livremente, mas estão agrupadas em micelas.

Com a adição de cloreto de sódio a uma solução micelar de, por exemplo, lauril éter sulfato de sódio, as propriedades eletrostáticas na superfície das micelas são alteradas e se observa aumento significativo da viscosidade. O mesmo resultado pode ser obtido pela adição de um cotensoativo, como cocoamidopropil betaína.

Um outro método para espessamento consiste em adicionar “espessantes não iônicos” que são derivados graxos de baixo peso molecular.

 

 

 

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